PP rejeita candidatura de Moro e instaura crise no projeto político do ex-juiz. Confira essas e outras notícias na newsletter das últimas semanas 17/12/25.
Novas possibilidades de punição aos agentes lavajatistas surgiram nas últimas semanas com a autorização de Tóffoli à busca e apreensão na 13ª Vara Federal de Curitiba. Ainda no aguardo dos resultados de tal operação, que pode, enfim, dar sequência ao relatório do CNJ sobre crimes da Lava Jato e às denúncias de Tony Garcia, Moro segue alinhado à extrema-direita ao declarar apoio à Lei da Dosimetria, que pretende livrar da cadeia os condenados na trama golpista. Por outro lado, o ex-juiz e atual senador encontra novos entraves em seus anseios pelo governo do Paraná, com um dos membros de sua federação partidária, o PP, vetando sua candidatura para 2026. Ainda, o STF segue com anulações no âmbito da Lava Jato e exige explicações de acordos no caso Mônaco, e movimentos estudantis se mobilizam em defesa do Supremo Tribunal Federal. Tudo isso na newsletter de 17/12/2025 do Museu da Lava Jato.
Toffoli autoriza busca na 13ª Vara:
Por decisão do ministro do Supremo Tribunal Federal, Dias Toffoli, foi determinada operação de busca e apreensão da Polícia Federal na 13ª Vara Federal de Curitiba, onde atuava o ex-juiz Sergio Moro e se realizavam as principais decisões e articulações da Lava Jato. Com origem em denúncia de Tony Garcia, ex-deputado estadual, na qual afirmou ter sido coagido por Moro a atuar como agente infiltrado em favor da Lava Jato, a busca e apreensão objetiva a coleta de arquivos e dados não enviados ao STF mesmo após solicitação do tribunal. O primeiro esforço de Moro, hoje no Senado, foi retirar o processo do STF, para que, em um tribunal mais favorável ao lavajatismo, pudesse sair impune. Tal esforço, no entanto, foi infrutífero e a busca e apreensão citada é nova etapa em fechamento de certo contra os antigos agentes da Operação Lava Jato.
Outra consequência possível nesse sentido, conforme explica Antônio Carlos Kakay, advogado integrante do Grupo Prerrogativas, em seu artigo ao Poder 360, é a possibilidade de, enfim, dar-se prosseguimento às graves denúncias apresentadas em relatório do CNJ, mas que ainda não recebeu as devidas providências. Explica também o advogado que a presente demora em parte se dá pela sobrevivência do lavajatismo em diversos setores do judiciário, ainda que siga um combate crescente em tribunais como o STF. Mesmo que algumas provas sejam difíceis de se coletar, tantos anos após os acontecimentos principais, é também notório que muitas provas são produzidas pelos próprios perpetradores dos crimes, como se descobriu nas investigações da trama golpista de Jair Bolsonaro.
STF: Lava Jato e acordo com Mônaco, novas anulações e apoio de entidades estudantis:
O caso do ex-diretor da Petrobras, Renato Duque, que já vem suscitando debates nos últimos meses pela votação no STF sobre sua prisão, teve um novo capítulo em decisão da 13ª Vara Federal de Curitiba. Dessa vez, o tema não é a sua condenação em si, mas o destino dos valores confiscados, algo que já causou problemas no passado, uma vez que a 13ª Vara pretendia determinar o destino de tais valores, algo que o STF vinha barrando. O novo detalhe foi a determinação da divisão do valor confiscado com o governo de Mônaco, onde fica a offshore que reteve a quantia de 162 milhões. Tal decisão também ocasionou reação do STF, com Alexandre de Moraes determinando um prazo de 24 horas para que essa divisão fosse explicada.
E, dando sequência ao processo de anulações em decorrência dos conluios entre juízo e acusação praticados ao longo da Lava Jato, a nova determinação de Toffoli foi a anulação das provas da Odebrecht contra o ex-presidente da OAS. Para o ministro, é preciso um exame minucioso das provas para não incidir em ilegalidade, visto que resultantes dos sistemas Drousys e My Web Day B, fornecidos em acordo de leniência com a Odebrecht, já declarados imprestáveis em decisão anterior. Toffoli, no entanto, optou por não anular as provas decorrentes de delação premiada de funcionários da OAS, por não terem ligação com o precedente evocado para a outra anulação.
Ainda, entidades estudantis se reuniram com o ministro Dias Toffoli para declarar apoio ao STF como instituição e por decisões recentes. Entre as entidades estiveram a União Nacional dos Estudantes (UNE), a Federação Nacional dos Estudantes de Direito (FENED) e o Coletivo de Assessoria Jurídica Universitária (CADIR), que entregaram carta de apoio ao ministro. Entre os assuntos abordados, focou-se no apoio às instituições democráticas e na presença da corte no combate à trama golpista após as eleições de 2022, além de declarar apoio às decisões recentes de reversão aos desmandos lavajatistas. Salientou-se também a preocupação com o PL da Dosimetria que, aprovada na Câmara, segue para o Senado com a pretensão de usurpar as funções do judiciário e safar os recentemente condenados pela tentativa de golpe.
Moro apoia esforço da Câmara para safar golpistas:
Em meio à aprovação do PL da Dosimetria na Câmara, rumando ao Senado, o ex-juiz Sergio Moro já se adiantou em declarar-se favorável ao projeto. Trata-se de mais um aceno à extrema-direita em sua trajetória política, visto que o objetivo central é reduzir a pena do ex-presidente Jair Bolsonaro por tentativa de golpe de Estado a um tempo ínfimo, ainda que isso possa beneficiar criminosos dos mais diversos. Em contraste flagrante com seu discurso político amparado no punitivismo, Moro segue no esforço de conquistar o eleitorado bolsonarista, sem declarar-se 100% fiel à causa do ex-presidente, visto que citou que “Bolsonaro será beneficiado pelo PL, mas é consequência”.
Seu discurso disfarça o claro intuito principal em beneficiar Bolsonaro ao citar penas supostamente excessivas aos demais condenados pelo 08/01, mas quando perguntado se não há uma contradição com seus posicionamentos punitivistas, Moro chega a declarar que não houve tentativa de golpe de Estado, se aproximando ainda mais do discurso padrão do bolsonarismo.
PP rejeita candidatura de Moro e instaura crise no projeto político do ex-juiz:
Mas, a despeito dessa última indicação ideológica de Moro, o próximo passo de sua carreira política sofreu um abalo nas últimas semanas. Conforme é amplamente conhecido, Moro pretende se candidatar ao governo do Paraná em 2026, mas o que já estava garantido por meio de seu partido, o União Brasil, fica em dúvida por conta da federação firmada com o PP. Ainda com risco de não se concretizar, mas cujas arestas vêm sendo aparadas recentemente, a federação partidária entre o UB e o PP pretende construir o maior orçamento para as próximas eleições, mas com a obrigatoriedade de ambos os partidos saírem em conjunto em todas as candidaturas. Por esse motivo, a decisão recente do PP em vetar a candidatura de Moro pode ser determinante para o ex-juiz.
O motivo alegado pelo PP é que a candidatura de Moro isolaria a federação em demais negociações ao longo do país e mesmo ao nível federal. Já era de conhecimento que Moro trazia muita rejeição no PP, e mesmo dentro de seu próprio partido, o que, inclusive, gerou uma debandada de prefeitos das siglas. Outro motivo é o interesse do PP em apoiar o eventual candidato de Ratinho Jr., ou mesmo a candidatura de Cida Borghetti, que seria mais palatável a outras negociações.
Ainda assim, Moro reafirmou sua intenção de sair candidato e decidiu enfrentar a decisão do PP, mas muitos correligionários já declararam que a decisão é irreversível. Assim, os caminhos possíveis para o ex-juiz seriam: a dissolução da federação partidária — o que é possível apenas porque ela não está 100% oficializada —, pois a depender apenas do UB, sua candidatura era certa; ou a filiação a um novo partido. A primeira opção já foi muito mais provável do que é no momento, visto que houve um esforço para diminuir as diferenças entre os líderes dos dois partidos, e hoje a alta cúpula já vê a candidatura de Moro como esvaziada, o que não teria potencial de romper a federação mesmo que líderes do UB tivessem interesse nela. Já a filiação a outros partidos é um caminho mais viável, mas sem grandes opções disponíveis.
Longe de ter o mesmo capital político, verba eleitoral, palanques pelo Estado e tempo de televisão que a federação União Progressista, ou mesmo do União Brasil individualmente, alguns partidos possíveis para Moro seriam aqueles sem grande potencial em si mesmos, e, portanto, sem muito a perder. Um deles é o PRTB, partido de pouca expressão, sem fundo partidário e que se notabilizou por candidaturas folclóricas, como a de Levy Fidelix à presidência em 2014. Mais recentemente, o partido lançou Pablo Marçal à prefeitura de São Paulo, que quase chegou ao segundo turno e se notabilizou por estratégias altamente desonestas, o que inclusive culminou na perda dos direitos políticos de Marçal. Moro tem mantido conversas com representantes desse partido, mas a falta de fundo partidário e a excentricidade da legenda podem ser um impeditivo.
Outros partidos de pouca expressividade, mas que seriam opção, são o Agir e o PMB, que lançou a candidatura da bolsonarista Cristina Graeml à prefeitura de Curitiba em 2024. Novamente, a falta de fundo partidário e tempo de televisão é um entrave. Por fim, ainda há a possibilidade do recém-fundado partido do MBL, que poderia lançar Moro, considerando a sua ambição em fundar um movimento tão bolsonarista quanto Bolsonaro, mas sem a participação do ex-presidente, um pouco como a postura de Moro. O partido ainda não teve a oportunidade de perder o fundo partidário pela cláusula de barreira em eleições nacionais, mas o entrave a Moro nesse caso está mais no caráter fechado da nova legenda, o que talvez se altere no decorrer do ano que vem por conveniências políticas. O prazo para Moro escolher uma nova legenda é abril do próximo ano. Até lá, corre o risco de ver sua nova empreitada política morta ainda no nascedouro.
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Referências e outras notícias
- Toffoli autoriza busca na 13ª Vara:
https://www.cartacapital.com.br/justica/toffoli-autoriza-operacao-da-pf-na-13a-vara-federal-de-curitiba-onde-moro-atuou-como-juiz/
https://www.poder360.com.br/opiniao/lisboa-e-sergio-moro-da-poesia-a-realidade/ - Lava Jato e acordo com Mônaco:
https://www1.folha.uol.com.br/blogs/brasilia-hoje/2025/12/moraes-da-24-horas-para-vara-da-lava-jato-explicar-acordo-com-monaco.shtml
https://www.brasil247.com/brasil/justica-valida-divisao-de-r-162-milhoes-da-lava-jato-com-monaco - Nova anulação no STF:
https://www.cartacapital.com.br/politica/toffoli-anula-uso-de-provas-da-odebrecht-contra-ex-presidente-da-oas-na-lava-jato/ - Entidades estudantis manifestam apoio a STF:
https://jornalggn.com.br/cidadania/entidades-estudantis-se-reunem-com-dias-toffoli/ - Moro apoia esforço da Câmara para safar golpistas:
https://noticias.uol.com.br/politica/ultimas-noticias/2025/12/10/votarei-a-favor-da-pl-da-dosimetria-diz-sergio-moro.htm - PP rejeita candidatura de Moro e instaura crise no projeto político do ex-juiz:
https://www.cartacapital.com.br/politica/pp-do-parana-veta-candidatura-de-moro-e-aprofunda-racha-com-o-uniao/
https://www.cartacapital.com.br/cartaexpressa/apos-ser-rifado-pelo-pp-moro-reafirma-ser-candidato-ao-governo-do-parana/
https://www.brasil247.com/blog/sergio-moro-nao-consegue-reverter-veto-na-uniao-progressista-diz-maria-victoria
https://www.cnnbrasil.com.br/politica/veto-a-moro-no-parana-amplia-crise-na-federacao-uniao-pp/
https://oglobo.globo.com/politica/noticia/2025/12/08/rueda-reclama-de-veto-de-ciro-nogueira-a-moro-mas-cupula-da-federacao-pp-uniao-brasil-ve-candidatura-esvaziada.ghtml
https://oglobo.globo.com/politica/noticia/2025/12/12/partidos-de-pablo-marcal-e-do-mbl-avaliam-filiacao-de-moro-apos-impasse-com-uniao-brasil.ghtml
https://www.esmaelmorais.com.br/moro-agir-parana-2026/
https://www.esmaelmorais.com.br/missao-moro-livro-amarelo/
