AS CURIOSAS RELAÇÕES ENTRE A LAVA JATO (E SEUS ATORES) COM OS ESTADOS UNIDOS
Durante algum tempo, a possibilidade de os Estados Unidos ter utilizado a Operação Lava Jato e seus atores para desestabilizar a política e a economia brasileira foi tratada como uma teoria da conspiração. Nos últimos anos, no entanto, essa visão começou a mudar, na medida em que novas evidências foram surgindo.
Até hoje, a bem da verdade, não há uma prova cabal sobre o assunto. Mas as provas circunstanciais são diversas e cada vez mais numerosas.
Além disso, há a realidade de fato. É que não só um governo popular e de esquerda (que em diversas ocasiões contrariou interesses americanos) foi prejudicado pelo lavajatismo, mas também duas empresas brasileiras (Petrobras e Odebrecht) que eram campeãs nacionais em suas respectivas indústrias e que vinham conquistando um destaque internacional cada vez maior.
Mas afinal, quais as evidências que ligariam a Lava Jato à uma trama orquestrada internacionalmente?
1) PROJETO PONTES (CABLEGATE)
Arquivos divulgados pelo Wikileaks mostram que Sergio Moro, em 2009, foi palestrante de um seminário chamado “Projeto Pontes: construindo pontes para a aplicação da lei no Brasil”, em que se tratava de consolidar um treinamento bilateral de aplicação das leis e habilidades práticas de contraterrorismo. Conforme informe enviado ao Departamento de Estado dos Estados Unidos (financiador do evento), os brasileiros teriam aprendido (e até mesmo solicitado alguns treinamentos adicionais) sobre os segredos da “investigação e punição nos casos de lavagem de dinheiro, incluindo a cooperação formal e informal entre os países, (…) métodos para extrair provas e negociação de delações”.
2) SNOWDEN E A ESPIONAGEM AMERICANA
Em 2013, um ano antes do surgimento da Lava Jato, uma série de matérias publicadas pelo jornal inglês The Guardian e pelo estadunidense The Washington Post estremeceu o mundo. As publicações tinham como base os documentos e informações vazadas por Edward Snowden, ex-contratado da NSA, a Agência de Segurança Nacional dos Estados Unidos. E entre as revelações estava a espionagem contra o Brasil: os Estados Unidos tinha como objeto específico a Petrobras, o Ministério de Minas e Energia e a própria presidenta do Barsil à época, Dilma Rousseff, incluindo também seus assessores mais próximos.
3) AFINIDADES IDEOLÓGICAS
“Quem veio de Portugal para o Brasil foram degredados, criminosos. Quem foi para os Estados Unidos foram pessoas religiosas,cristãs, que buscavam realizar seus sonhos, era um outro perfil de colono”. Essa frase é de Deltan Dallagnol e foi dita em fevereiro de 2016 durante uma palestra numa Igreja Batista. Dallagnol foi coordenador da força-tarefa da Lava Jato e usou não só a operação para ascender politicamente (assim como Sergio Moro), mas também a religião – chegando a colocar em prática um plano para “aumentar sua influência” usando “grupos de ação cidadã em igrejas e viagens”.
4) LEI ANTICORRUPÇÃO
Em 2013, o Congresso brasileiro começou a votar a lei anticorrupção. Cedendo à pressões internacionais, os parlamentares acabaram incorporando à legislação pátria mecanismos previstos no Foreign Corrupt Practices Act (FCPA), uma lei que permite que os EUA investiguem e punam fatos ocorridos em outros países. Para especialistas, ela é instrumento de exercício de poder econômico e político dos norte-americanos no mundo.
5) FUNDO DA LAVA JATO
Deltan queria que dinheiro da Petrobras fosse para os EUA, revelam áudios enviados aos STF. Sua intenção era conseguir, por meio de multas aplicadas à Petrobras, valores e, em seguida, fazer com que parte desse montante retornasse ao Brasil através de negociações com o Departamento de Justiça (DoJ) dos EUA. Isso aconteceu e, em 2018, a Petrobras fechou com o DoJ um acordo de US$ 853 milhões (R$ 3,5 bilhões à época). Do total, R$ 2,5 bilhões voltaram ao Brasil e foram depositados em uma conta da 13ª Vara Federal de Curitiba. Os procuradores queriam que a soma fosse destinada a programas de corrupção que ficariam sob tutela do Ministério Público Federal, o que acabou sendo barrado.
6) COOPERAÇÃO ILEGAL
Lembra que Sergio Moro e mais alguns membros do Poder Judiciário aprenderam, num evento em 2009, sobre “cooperação informal” de informações? Pois a Lava Jato fez exatamente isso. Diálogos vazados mostram proximidade entre PF, procuradores e o FBI no caso da Lava Jato, incluindo “total conhecimento” das investigações sobre a Odebrecht. Além disso, a Lava Jato chegou ao ponto de esconder do Ministério da Justiça visita do FBI e procuradores americanos e de tratar de uma extradição diretamente com os estrangeiros. Enquanto isso, um agente que atuou em investigações da Lava-Jato no Brasil virou chefe da Unidade de Corrupção Internacional do FBI.
7) POLÍTICA EXTERNA E POLITICAGEM
Os EUA se preocupavam com o Brasil. Nos governos do PT, a política externa brasileira ganhou autonomia e o país ascendeu como uma potência econômica e geopolítica, inclusive com empresas nacionais (como as empreiteiras Odebrecht, Camargo Corrêa e OAS) expandindo seus negócios pela América do Sul e África. Ao mesmo tempo, as relações entre os governos americano e brasileiro foram se deteriorando. E a situação só piorou depois das já citadas revelações de Snowden, que mostraram que a NSA espionava a presidente Dilma Rousseff e a Petrobras.
Ao mesmo tempo, os agentes da Lava Jato nunca conseguiram ao menos disfarçar a ojeriza que tinham do Partido dos Trabalhadores (o ex-juiz da Lava Jato já chamou o PT de “inimigo histórico”, até mesmo). E além da repulsa ideológica, a força-tarefa também tinham seus próprios interesses. Carlos Fernando dos Santos Lima falava em refundar a República. Dallagnol e Moro não demoraram para iniciar uma carreira política.
8) ENRIQUECIMENTO
Trabalhando para a Alvarez & Marsal, consultoria que faz a recuperação judicial de empresas que foram alvo da “República de Curitiba”, Sergio Moro ganhou mais em onze meses do que ao longo do tempo em que esteve à frente da Lava Jato como magistrado. Entre março de 2014 e novembro de 2018, o então juiz recebeu (em valores brutos) 2,82 milhões de reais, com remuneração média mensal de 48.607,33 reais. No escritório nos Estados Unidos, ganhou em menos de um ano 3,7 milhões de reais – recebeu um salário de 45 mil dólares por mês, além de ter faturado um bônus de 150 mil dólares quando de sua contratação.
A empresa que contratou Moro, por sua vez, recebeu ao menos R$ 65,1 milhões de empresas envolvidas na Lava Jato. Esse valor equivale a 78% de todo o faturamento por administração judicial que a companhia alegou ter tido de 2013 até 2021, números que foram divulgados pelo TCU (Tribunal de Contas da União). Odebrecht/Atvos, Banco BVA, Grupo OAS, Queiroz Galvão, Enseada e Agroserra estavam na lista de clientes envolvidos em processo de recuperação judicial ou falência.
9) COLEGA DE EX-AGENTES DOS EUA
A Alvarez & Marsal era formada “por ex-funcionários de governos, incluindo Steve Spiegelhalter (ex-promotor do Departamento de Justiça dos EUA), Bill Waldie (agente especial aposentado do FBI), Anita Alvarez (ex-procuradora do estado de Cook County, Chicago) e Robert DeCicco (ex-funcionário civil da Agência de Segurança Nacional), Paul Sharma (ex-vice-chefe da Autoridade de Regulação Prudencial do Reino Unido) e Suzanne Maughan (ex-líder investigativo da Divisão de Execução e Crime Financeiro da Autoridade de Conduta Financeira e investigador destacado para o Escritório de Fraudes).”
Ou seja, Moro foi sócio de agentes ligados ao FBI, à NSA e ao DoJ.
10) MESTRADO EM HARVARD
Deltan Dallagnol fez um “LL.M. em Harvard”, curso que teria sido “revalidado” como Mestrado pela Universidade Federal do Paraná. A informação, por muito tempo, esteve em destaque em seus perfis nas redes sociais. Mas a partir de 2019 o ex-chefe da Lava Jato passou a achar melhor “esconder” o fato, curiosamente – que permaneceu público apenas em seu currículo Lattes.
11) DESTRUIÇÃO DA ECONOMIA
O Brasil havia descoberto o pré-sal. Era a chance de o país não apenas alcançar a soberania energética, mas também uma oportunidade para desenvolver tecnologia e indústria nacionais, gerar empregos e financiar programas sociais. Depois da Lava Jato, porém, todo esse projeto naufragou. Refinarias estratégicas (e lucrativas) foram vendidas a grupos internacionais. A indústria naval e da construção civil foram sucateadas. Plantas de produção de fertilizantes e biocombustíveis descontinuadas. Empresas de gás natural da companhia, como a NTS, Liquigás e Gaspetro, e até a BR Distribuidora, passaram para o controle privado. Milhares de trabalhadores e terceirizados foram demitidos.
Segundo o Ministério Público Federal (MPF), a Lava Jato recuperou 25 bilhões de reais que haviam sido desviados aos cofres públicos. Só o setor da construção pesada, no entanto, deixou de arrecadar mais de 105 bilhões de reais por causa dos impactos do lavajatismo na economia brasileira, revela estudo do Sindicato das Indústrias da Construção Pesada (Sinicon). Já o Dieese aponta que 172,2 bilhões de reais deixaram de ser investidos no país entre 2014 e 2017, mesmo período em que 4,4 milhões de pessoas perderam o emprego por conta dos reflexos do suposto “combate à corrupção”.
12) PORTAS ABERTAS PARA O FBI
Quando ministro da Justiça de Jair Bolsonaro, o ex-juiz Sergio Moro e o ex-diretor da PF Maurício Valeixo assinaram acordos com o FBI, ampliando a influência americana em diferentes áreas de combate ao crime, incluindo a presença dos agentes estrangeiros em um centro de inteligência na fronteira, investigações sobre corrupção e acesso a dados biométricos brasileiros. Além disso, quando tirou uma licença não remunerada de cinco dias em julho de 2019, Moro possibelmente se reunido com o FBI em Washington.