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Kixirrá /Jamamadi
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Identificação
Kixirrá /Jamamadi
Relato
Acompanhei a vigília desde os seus primeiros momentos pela televisão, vi a agressão da polícia, achei aquilo muito bárbaro.
Na época eu estava fazendo o curso de gestão pública no Instituto Federal de Curitiba, e foi muito impactante porque naquela turma o que se falava era mal do PT, era o reflexo do que estava acontecendo no restante do Brasil. Naquela sala, éramos cinco alunos de esquerda, o restante da turma era influenciado pela direita, e, incluindo alguns professores, de modo até agressivo, se posicionaram realmente contra a então presidente Dilma e contra o ex-presidente Lula. E que eram a favor daquela arbitrariedade. Para mim, como aluna naquela classe, a vivência foi bem difícil. Desde os primeiros momentos até os últimos dias naquela instituição. Pois terminei o curso em 2019. Naquele momento, naquela instituição, com os meus colegas de classe, fui perseguida por ser de esquerda, tive meus trabalhos boicotados por todos. A maioria deles saía da sala quando eu ia apresentar trabalho. Tive minha posição de esquerda questionada, muitas vezes até com deboche, e foi bem difícil terminar o curso naquele espaço por ser de esquerda (petista).
Na vigília eu ia com minha mãe, Francisca, afiliada ao Partido dos Trabalhadores desde 1995, fazíamos umas 2 horas de ônibus para chegar até lá, e vivemos aquele momento, de modo particular nos finais de semana, tudo que a vigília podia oferecer, desde limpar a bituca de cigarro no chão junto com outros militantes. Foi muito lindo encontrar pessoas de todo o Brasil naquele espaço, a Casa da Resistência, a experiência de ver o espaço se organizando devagar. Infelizmente, não podia vivenciar tudo aquilo durante a semana, pois tinha que estudar e dar conta das atividades familiares, mas trabalhava mesmo que precariamente. O pior momento da vigília para mim foi quando resolvemos passar o resultado da eleição lá na vigília. Fomos cercados por pessoas da direita, alegres com a vitória do Bolsonaro, jogaram fogos de artifício dentro da vigília, dentro do espaço onde estávamos. Minha mãe tremia como uma vara verde, lá tinham famílias do MST de vários lugares do Brasil, e quando finalmente se acalmaram, isso já passava da meia-noite, criamos coragem e resolvemos ir embora para casa, para dar espaço para os outros companheiros de fora que tinham que dormir na vigília e viemos para casa. No caminho, quando estávamos saindo da vigília, uma pessoa jogou o carro em cima de nós dizendo que a gente merecia era morrer, e aquele dia foi bem triste... em muitos sentidos. A que ponto a gente tinha chegado. Foi bem violento, minha mãe nunca esqueceu, minha irmã também não, naquele dia estávamos com o filho dela de sete anos, ele não entendia porque uma pessoa tinha acabado de jogar o carro em cima de nós. E o mesmo desviou gritando "Viva Bolsonaro!" Quanta violência vivemos nessa Curitiba moderna, como dizem, mas atrasada de muitas décadas. As violências não foram só no espaço da vigília, mas fora dela também, tivemos muitos companheiros agredidos, muitos vizinhos deixaram de falar conosco. Praticamente em casa também foi um grande problema, meu marido não aceitava que a gente permanecesse apoiando um partido de esquerda, no caso o Partido dos Trabalhadores. Ele sabia que minha família é afiliada ao PT desde 1995. Inclusive eu mesma me filiei com 16 anos, naquele mesmo ano. Então, como militante desse partido, nós já sofremos muito e, para ser o Partido dos Trabalhadores que é hoje, muitos militantes na base se sacrificaram. Dediquei minha juventude ao PT na base. E é triste ver que em alguns lugares, inclusive em Curitiba, o PT aceitar ser apagado. Aceitar uma candidatura que não vem contribuir com a nossa cidade em nenhuma dimensão. Pelo menos, não vejo. Não consigo ver nessa possibilidade de acordo aí que eles estão fazendo para a população de Curitiba, nenhum projeto. Fico me questionando se valeu a pena ter passado por tanta coisa. Ver o partido se entregando desse jeito. Em alguns momentos vejo nossa estrela se apagando. Fica aí meu questionamento inquieto com tudo isso.
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