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A aposentadoria compulsória de Marcelo Bretas, decidida por unanimidade pelo Conselho Nacional de Justiça, não é apenas uma punição individual, é o retrato do fracasso ético, jurídico e político da Lava Jato. O juiz que se tornou símbolo da operação no Rio de Janeiro deixa o cargo envolto em acusações gravíssimas: manipulação de delações premiadas, acordos ilegais com o Ministério Público, e uso político da toga para interferir em eleições. Bretas não foi exceção, foi a regra dentro de um sistema que normalizou a violação do devido processo legal em nome de um moralismo autoritário.

A Lava Jato no Rio de Janeiro replicou, com sotaque carioca, o mesmo modus operandi de Curitiba: espetacularização da justiça, criminalização seletiva, perseguição política e uma fé cega nas delações como instrumentos de poder, não de verdade. Sob o comando de Bretas, a operação se converteu num tribunal de exceção com fins políticos. Não por acaso, atuou decisivamente para garantir a eleição de figuras da extrema direita fluminense, como Wilson Witzel, ao passo que atuava abertamente contra adversários como Eduardo Paes.

A reação de Sérgio Moro à punição de Bretas é reveladora. Ao classificar a decisão como “excessiva” e insinuar perseguição, Moro apenas expõe seu próprio receio: o de que seu legado também esteja sendo desmascarado. O lavajatismo foi um projeto político de poder travestido de cruzada anticorrupção. E agora seus protagonistas se desesperam diante da deslegitimação crescente. Não é empatia: é autopreservação, é corporativismo. Moro vê em Bretas seu próprio espelho, e quem sabe seu possível futuro.

No entanto, o fato de que a única punição seja uma aposentadoria precoce e remunerada escancara o quanto o sistema ainda é complacente com juízes que violam a Constituição e carece de uma reforma, o que é assunto para outro texto. Mas é também um precedente simbólico poderoso. O discurso de impunidade dos outros, que outrora justificou tantos abusos, começa agora a se voltar contra os próprios lavajatistas.

A farsa do lavajatismo está ruindo. Cabe a nós, com memória, crítica e mobilização, garantir que essa ruína seja o começo de uma reconstrução democrática do sistema de justiça, não só pela necessidade de reparação mas também pela volta da credibilidade com as Instituições.