A mais recente disputa entre governo federal e Congresso sobre o aumento do IOF para grandes transações financeiras revelou mais do que uma divergência técnica sobre alíquotas. Revelou, de forma escancarada, o alinhamento automático entre a elite econômica, seus representantes políticos e a grande imprensa. Quando o governo tentou taxar operações milionárias de bancos, casas de apostas e bilionários, o Congresso reagiu com fúria e derrubou o decreto. A resposta foi quase imediata: a grande mídia correu em defesa dos privilegiados.

Folha, Globo, Estadão, Gazeta do Povo e outros se revezaram em editoriais inflamados contra a proposta. Acusaram o governo de “polarização”, “populismo tributário” e “insegurança jurídica”. E repetiram sem parar que o Planalto estaria promovendo uma “guerra de classes”, como se escancarar o fato de que os pobres pagam proporcionalmente mais impostos fosse uma tática bolchevique. A CONTRADIÇÃO se escancara em letras maiúsculas: quando o Estado dá isenção bilionária para heranças e lucros, eles chamam de responsabilidade fiscal. Quando tenta corrigir distorções, é ideologia na tentativa de promover o caos. 

Essa histeria midiática não é novidade. Durante a Lava Jato, os mesmos veículos se comportaram como tribunais paralelos. Recebiam delações antes das defesas, pautavam a opinião pública com vazamentos seletivos e naturalizavam ilegalidades desde que servissem ao propósito maior dessa mesma classe dominante: eliminar politicamente um campo que ameaçava interesses históricos. A parcialidade nunca foi disfarçada. Apenas legitimada sob a máscara de um jornalismo que dizia buscar “a verdade”.

O episódio do IOF reencena esse script. A imprensa age como guardiã de um modelo tributário regressivo, onde a concentração de renda é protegida sob o argumento da “segurança jurídica”. Na prática, o que se vê é um jornalismo a serviço dos seus acionistas. Um sistema que grita quando o rico é chamado a contribuir, mas silencia quando o pobre é explorado até o último centavo em impostos sobre consumo.

A mídia brasileira não erra por acidente. Ela opera com método, lado e propósito: blindar os interesses do topo. Se na Lava Jato o objetivo era destruir a política popular, hoje o alvo é a justiça tributária. São as mesmas vozes, os mesmos editoriais, o mesmo projeto antipopular. Por isso o dever segue o mesmo: registrar, denunciar e lembrar. Esses jornais têm lado. E não é o do povo.