Desde a Declaração da Independência, em 1822, o Brasil concedeu 48 anistias, até a atualidade. Entre elas, algumas de caráter louvável, como o Decreto 2.280, de 25 de novembro de 1910, que anistiou os marinheiros liderados por  João Cândido, após a Revolta da Chibata. 

A Lei da Anistia de 28 de agosto de 1979, mais recente concedida no país, não obstante a concessão de perdão aos perseguidos políticos pelo regime, também serviu para deixar os algozes em paz.

Prevaleceu, no pós 78, a visão de que “o que passou, passou”. Os torturadores foram esquecidos e, novamente, reforçou-se o esquecimento como política de Estado. A atual discussão sobre a anistia aos envolvidos no 8 de janeiro é sintoma de memória curta ou crise de identidade? Ao que parece, o soterramento da memória coletiva através da política do esquecimento forçado arraigou-se no Brasil. 

O Presidente da Câmara, Hugo Motta, avançou na inserção de um projeto de anistia aos envolvidos no 8 de janeiro, após afirmar ao colégio de líderes que será inserida na pauta, demonstrando seu compromisso com mesma força que operou, e ainda opera, essa política antinacional.

Vale lembrar as mensagens vazadas da Polícia Federal, no âmbito Operação Catilinárias, um braço da Operação Lava Jato, que revelaram que Hugo Motta atuava no Congresso para beneficiar Eduardo Cunha e auxiliar em sua empreitada para a deposição da Presidente Dilma.

Cunha disse a Hugo Motta, referindo-se à medida provisória 561 de 2012, que abordava financiamentos do BNDES e o parcelamento de dívidas de estados e municípios: “Vou pôr uma emenda para você assinar que é do veto da 561”. Motta atuava como relator da Medida Provisória, que recebeu dois vetos da Presidente Dilma Rousseff. 

Eduarda Cunha, em seu ignóbil livro “Tchau, Querida”, descreve Hugo Motta como “um bom quadro”.  Ao presidir a CPI da Petrobras de 2015, Motta pediu o indiciamento do ex-tesoureiro do Partido dos Trabalhadores, João Vaccari Netto. 

Após a queda de Dilma, abraçou o plano de governo de Temer e, posteriormente, de Bolsonaro. Os agentes que tanto atuaram para a concretização do golpe sofrido pela Presidente Dilma em 2016 não saíram de cena. Hoje, Hugo Motta segue passando a boiada, incluindo na pauta o projeto de anistia aos envolvidos no 8 de janeiro. 

Sérgio Moro, que pretende  disputar o cargo de governador do Estado do Paraná,  nas eleições de 2026, entre outros candidatos da mesma claque, terá prato cheio com a aprovação de um projeto de anistia, utilizando-a para captar os votos do bolsonarismo, ainda indispensáveis para sua eleição. 

O que está em jogo, entretanto, é o futuro da democracia brasileira – a manutenção, ou não, da política do esquecimento. Parte desse futuro, está na mão dos que tanto atentam contra a estabilidade de um projeto de Brasil. Há de se concordar, ao menos em uma coisa, com Eduardo Cunha: “Que Deus tenha Misericórdia dessa nação”.