A corrupção ‘quebrou’ a Petrobras? Confira os mitos e verdades sobre a maior empresa brasileira
Em react transmitido no Youtube, os economistas André Roncaglia e Eduardo Costa Pinto dissecaram a história recente da petrolífera, demonstrando o impacto da corrupção na empresa e explicando como ela hoje virou “uma máquina de gerar caixa”Possivelmente você já ouviu alguém falando que a Petrobras “quebrou” ou “quase quebrou” por conta da corrupção. Quando o culpado não é só o “Petrolão”, os “especialistas” ainda citam coisas como a suposta “péssima administração” nos anos em que o Partido dos Trabalhadores (PT) esteve à frente do governo federal. Um discurso que surgiu e começou a ganhar força anos atrás, nos tempos em que a Operação Lava Jato ecoava de forma monista e acrítica na imprensa brasileira, e que volta e meia volta a aparecer por aí, especialmente em tempos de eleição.
Em 2016, por exemplo, o jornalista Carlos Alberto Sardenberg escreveu no jornal O Globo um artigo que reverberou em outros veículos da grande imprensa (como a Veja). No texto, o jornalista e comentarista supostamente especializado em Economia não cita qualquer dado, mas utiliza frases de efeito para afirmar que “quebraram a estatal” e que “a Petrobras só não está em pedido de recuperação judicial porque é estatal”.
Mais recentemente, o assunto voltou à tona nos debates que aconteceram durante o segundo turno da eleição presidencial, quando Jair Bolsonaro (PL), candidato derrotado por Luiz Inácio Lula da Silva (PT), chegou a afirmar que, ao longo de 14 anos de PT (2003-2016), a Petrobras “se endividou em torno de R$ 900 bilhões”.
Afinal, é verdade que a corrupção e/ou que uma má gestão nos governos Lula e Dilma Rousseff à bancarrota?
A verdade sobre a corrupção e a gestão petista na Petrobras
Para responder ao questionamento, o Museu da Lava Jato (MLJ) se aproveitou de uma verdadeira aula dada por dois economistas. Em vídeo publicado no canal do André Roncaglia, no YouTube, há cerca de duas semanas, o professor de Economia da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) e Eduardo Costa Pinto, professor de Economia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), debateram o assunto, mensurando não só qual foi o impacto da corrupção na Petrobras, mas também dissecando a história recente da estatal, de forma a explicar a evolução do endividamento da empresa.
Começando sobre o assunto da corrupção, Costa Pinto cita que o valor estimado dos desvios na Petrobras foi de aproximadamente R$ 6 bilhões. Ou seja, o total de recursos devolvidos para a companhia via acordos de colaboração, leniência e repatriações fica em torno de R$ 6 bilhões. Um valor expressivo, inquestionavelmente, ainda mais quando considerado esse montante individualmente. Mas a realidade é que, dentro do orçamento da petrolífera, trata-se de um valor pequeno.
Curiosamente, inclusive, o valor da corrupção foi menor até mesmo do que as indenizações que a estatal brasileira teve de pagar aos Estados Unidos: R$ 9 bilhões. “A Petrobras pagou, num acordo internacional, pros Estados Unidos, R$ 9 bilhões. Então entrou seis e saiu nove”, explica Costa Pinto, destacando ser evidente que houve corrupção na empresa, uma vez que houve devolução de dinheiro desviado, mas ressaltando o equívoco que é analisar esse problema como algo focalizado em um único partido. “Essa corrupção acontece e sobretudo foram denunciados partidos que eram associados à diretoria da Petrobras, como inclusive o PP [Partido Progressista] e o PL [Partido Liberal]. Eram diretores indicados e que já estavam há mais de 30 anos na Petrobras”, aponta o especialista.
Entre 2008 e 2015, durante o segundo mandato de Lula e os mandatos de Dilma, contudo, o endividamento máxima da Petrobras chegou a R$ 420 bilhões (o que já desmente a acusação propagandeada por Bolsonaro e citada anteriormente). “Então foi a corrupção que quebrou a Petrobras, que endividou? Seis bilhões de 420 [bilhões]… É difícil de dizer que a corrupção foi responsável pelo endividamento da Petrobras”, afirma o economista da UFRJ.
Por outro lado, a Operação Lava Jato, através de sua atuação politicamente direcionada e do desrespeito à Constituição e à soberania nacional, promoveu um verdadeiro quebra-quebra na indústria nacional de petróleo e gás. Não à toa, em entrevista recente ao Museu da Lava Jato, a jornalista Cynara Menezes definiu a Lava Jato como uma lesa-pátria.
“O juiz ladrão [Sergio Moro] quebrou as empresas do setor. O setor de petróleo e gás é um setor que sempre acontece muita corrupção no mundo. Mas nenhum país quebra suas empresas. E o país deixou um juiz ladrão, essa tosqueira que é o Moro e que foi alçado à condição de super-herói, deixou quebrar empresas e setores inteiros”, afirma Costa Pinto.
Por que o endividamento da Petrobras cresceu nos governos PT?
Mas se não foi a corrupção a responsável pelo aumento do endividamento da Petrobras, o que teria causado essa situação?
Segundo Eduardo Costa Pinto, o que acontece é que, desde o descobrimento do pré-sal, a petrolífera precisou começar a investir maciçamente para que pudesse no futuro vir a explorar o petróleo que havia nessa área. Esses recursos foram utilizados na construção e modernização de refinarias e na construção de poços, para perfurar a 2 mil metros de profundidade e construir as unidades de produção.
“No momento em que você vai pesquisar se tem petróleo até sair petróleo das unidades de produção, você demora entre 4 e 5 anos. Uma unidade de produção que começou a dar petróleo em 2016, a decisão do investimento foi entre 2010 e 2011”, afirma o economista, citando dados recentes para ilustrar a importância dos investimentos feitos anteriormente pela estatal. “Foram construídas 16 unidades de produção. Essas unidades, em junho de 2022, produziram cerca de 40% de todo o petróleo produzido por dia no Brasil.”
Entre 2008 e 2015, foram 544 bilhões de reais no investimento na exploração e produção do pré-sal. A dívida total bruta da empresa, por sua vez, chegou a bater em R$ 420 bilhões, como já citado. Isso significa que a empresa usou também seu caixa, o lucro de anos anteriores para poder operacionalizar a exploração de petróleo no pré-sal.
“Normalmente o nível de endividamento cai quando você já está num nível de exploração mais alto. Quando você descobre uma região petrolífera nova, não. Porque você vai demorar no mínimo cinco, seis anos, para quê? Ter dinheiro entrando no caixa. E durante cinco, seis anos você está gastando dinheiro para colocar em operacionalização as coisas. Então por isso que o endividamento subiu.”
‘Uma máquina de gerar caixa’. Mas para quem?
Mas a decisão acerca desses investimentos foi correta? Parte da resposta pode ser encontrada no fato de as unidades de produção erguidas em anos recentes terem sido responsáveis por 40% de todo o petróleo produzido no Brasil. Outra parte pode ser encontrada nos próprios balanços da empresa, que em apenas um ano e meio, entre janeiro de 2021 e junho de 2022, distribuiu em dividendos (lucro que foi distribuído aos acionistas) R$ 236 bilhões.
“Por que hoje a Petrobras virou essa máquina de gerar caixa? Por causa dos investimentos realizados nos últimos anos, de 2009 até 2017, 2018. A Petrobras hoje dá esse lucro bilionário, de R$ 107 bilhões em 2021, porque você teve investimentos lá do passado, que geraram essas unidades de produção com custo baixo”, destaca Eduardo Costa Pinto, comparando ainda a Petrobras ‘de ontem’, nos governos do PT, com a Petrobras ‘de hoje’, nos governos Michel Temer (MDB) e Bolsonaro.