“O Brasil não apenas tem um condenado por corrupção como presidente, Luiz Inácio Lula da Silva, mas agora tem um operador totalitário como chefe de Justiça da Suprema Corte, chamado Alexandre de Moraes”, foi como a deputada norte americana Maria Elvira Salazar, do Partido Republicano na última sessão do congresso (07/05/24) dos EUA se referenciou de forma lamentável ao Brasil. A audiência teve como objetivo debater a democracia brasileira e foi motivada após o pedido de bloqueio pelo STF de perfis na rede social X que disseminavam fake news. Foram convidados para falar: 

– Paulo Figueiredo, ex-apresentador da Jovem Pan e neto de João Figueiredo, o último general-presidente da ditadura militar no Brasil, indicado pelos republicanos;
– Chris Pavlovski, CEO da rede social conservadora Rumble, indicado pelos republicanos;
– Michael Shellenberger, jornalista americano que divulgou em abril os arquivos do X (antigo Twitter) relacionados ao Brasil, indicado pelos republicanos;
– Fábio de Sá e Silva, professor de estudos brasileiros da Universidade de Oklahoma, único indicado pelos democratas.

Na audiência, os depoentes indicados pelos republicanos disseram ver abusos e violações de liberdade de expressão cometidos pelo STF. “Alexandre de Moraes é obcecado em silenciar seus inimigos”, disse Shellenberger. Em resposta, Fábio de Sá e Silva lembrou dos assassinatos promovidos pela ditadura militar brasileira (1964-1985). Ditadura esta defendida pelos bolsonaristas presentes. Ele citou o caso do jornalista Vladimir Herzog, morto pela repressão após sessões de tortura em 1975.

“As pessoas falam aqui sobre censura, sobre censurar discurso de jornalistas. Isso é o que aconteceu com jornalistas durante o regime militar no Brasil [mostrando foto de Vladimir Herzog]. Não há nada vagamente semelhante com o que aconteceu naquela época hoje”

Via Fábio de Sá no X

Mesmo em meio a catástrofe que o Brasil está passando no estado do Rio Grande do Sul, parlamentares brasileiros da extrema direita acharam de bom tom passar algum tempo no país norte-americano acompanhando a sessão como ouvintes. Entre eles estão a deputada federal Bia Kicis (PL-DF); deputado federal Nikolas Ferreira (PL-MG), deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP), deputado federal Gustavo Gayer (PL-GO), deputado federal Cabo Gilberto (PL-PB), deputado federal Filipe Barros (PL-PR), deputado federal Rodrigo Valadares (União Brasil-SE) deputado federal Marcos Pollon (PL-MS); senador Eduardo Girão (Novo-CE) e o cassado deputado federal Deltan Dallagnol (Novo-PR). 

Após a sessão, Deltan esbravejou elogios à audiência dos EUA, que tentou minar a estabilidade da democracia brasileira, em sua coluna na Gazeta do Povo e ainda convocou ataques à coluna do professor depoente Fábio de Sá. Também foram proferidos ataques ao ministro do STF, que teve suas decisões comparadas pelo extremista como as de um “serial killer da vida digital”. Houve tantos ataques às instituições brasileiras e tantos elogios àqueles acusados de disseminar notícias falsas que nos faz perguntar se Deltan, agora com seu mandato cassado, está buscando ser criminalizado em busca de notoriedade, seguindo o exemplo de outros indivíduos que também atacaram a democracia?

Os inúmeros ataques às instituições brasileiras e os elogios a indivíduos acusados de disseminar notícias falsas levantam a questão: estaria Deltan, agora com seu mandato cassado, procurando ser criminalizado em sua busca por notoriedade, à semelhança de outros que também já fizeram o mesmo?

É curioso ver que os parlamentares brasileiros que, em nome da liberdade e da democracia, suplicam por uma tentativa imatura de “ajuda” para que outro país interceda em nossa soberania, são os mesmos que questionam fatos como a eleição democrática que elegeu o presidente Lula ou até mesmo são os que apoiam regimes autoritários como a Ditadura Militar. Fabio de Sá e Silva, professor de estudos brasileiros da Universidade Oklahoma já havia alertado sobre a cultura jurídica e política da operação Lava Jato e seu fomento do antagonismo entre as instituições, especialmente o STF. A fala de Deltan na sua coluna na Gazeta e outras diversas postagens analisadas anteriormente por Fabio de Sá em sua pesquisa, demonstram  algo muito próximo da retórica que depois foi vista nos ataques do 8 de janeiro em Brasília-DF, questionando a legitimidade do STF.