O jogo político para a eleição de 2026 no Paraná segue bastante incerto em todos os setores. Enquanto o governo segue sem definição quanto a seu candidato, a oposição estuda os nomes que poderiam representá-la em unidade, com Requião Filho, recentemente filiado ao PDT, despontando em algumas análises. Já vista como provável, no entanto, é a candidatura do senador e ex-juiz Sergio Moro, que se tornou o líder estadual de seu partido, o União Brasil. Não por isso, no entanto, deixa de ser conturbada a sua articulação interna, visto que, mesmo após a debandada de prefeitos aliados por conta de sua pré-candidatura, muitos remanescentes seguem defendendo que o lavajatista não seja candidato. Mas Moro não é o único que tenta dar continuidade impunemente à sua vida pública após reveladas as irregularidades criminosas da Operação Lava Jato, o procurador Diego Castor de Mattos segue tentando se livrar do caso do outdoor propagandista da operação, inclusive processando quem o critica. Outros ex-lavajatistas também viraram notícia por abrirem escritório de advocacia em conjunto após deixarem a PF, visto que seus atos passados não são esquecidos tão facilmente. Ainda, Toffoli toma novas decisões em casos da Lava Jato e Fux demonstra interesse nos casos remanescentes da operação. Tudo isso na Newsletter do Museu da Lava Jato de 05/11/2025.

Novas decisões de Toffoli na Lava Jato:

No âmbito das decisões no STF sobre a Lava Jato, o Ministro Dias Toffoli tem se notabilizado ao longo do ano de 2025 pela reversão dos processos em que se caracterizou o conluio entre a força tarefa e o juízo da 13ª Vara Federal de Curitiba, revelados pela Vaza Jato e comprovados na Operação Spoofing. No dia 03/11, o Toffoli tomou nova decisão, desta vez a respeito do ex-diretor da Petrobras, Renato Duque. Trata-se de uma mudança de posicionamento com relação ao tomado no ano anterior, no qual manteve a prisão do ex-diretor citado. A mudança veio em sequência do posicionamento do ministro Gilmar Mendes, que, a respeito do processo em questão, afirmou ter havido:

procedimentos ilegais, abusivos e corrosivos das garantias do devido processo legal, do juiz natural e da imparcialidade exigida em todo e qualquer julgamento

A terminologia utilizada e o sequente acompanhamento por Toffoli demonstram um esforço de unicidade no STF a respeito do legado deletério da Operação Lava Jato, cuja reversão avançou substancialmente no ano de 2025. A decisão sobre a manutenção ou não da prisão de Renato Duque seguirá para o voto dos três demais ministros da segunda turma: Luiz Fux, Kassio Nunes Marques e André Mendonça.

O interesse de Fux na Lava Jato:

A despeito da movimentação por unidade no STF com relação a temas cruciais, há personagens na corte que demonstram seguir no sentido contrário. É o caso do ministro Luiz Fux, que chamou a atenção por divergir de seus então colegas da primeira turma e votar contrariamente à condenação do ex-presidente Jair Bolsonaro por tentativa de golpe de Estado. Não bastasse a argumentação incoerente, exaustiva e com olhares para a militância bolsonarista, o voto teve impacto especialmente negativo entre os colegas justamente por esse esforço de unidade em um caso que trata de ataques políticos à própria sobrevivência do STF. Fux passou a ser tratado de forma fria pelos demais ministros e a ser criticado publicamente, o que utilizou de pretexto para pedir a mudança para a segunda turma, algo possibilitado pela renúncia do ministro Barroso. Ocorre que a mudança de turma não se resume a uma questão de coleguismo.

Ainda que a segunda turma do STF, para a qual Fux migrou, contenha os dois ministros indicados por Bolsonaro, André Mendonça e Nunes Marques, a questão é mais profunda que uma eventual amizade. Trata-se da turma do STF que julga os casos remanescentes da Operação Lava Jato, como no do tópico anterior, em que, após o voto pela anulação da prisão dado por Toffoli e Gilmar, aguarda-se agora os de André Mendonça, Nunes Marques e Luiz Fux. O esforço do ministro, portanto, está em ocupar o espaço vacante com a posse de Fachin na presidência do Supremo e com a renúncia de Barroso, seu sucessor inicial. O espaço inicialmente seria do ministro a ser indicado pelo presidente Lula, o que consolidaria o esforço de reversão à Lava Jato, mas a chegada de Fux tende a alterar o balanço da turma e colocar o ministro mais uma vez nos holofotes da extrema-direita.

Ex-lavajatistas tentam dar sequência à vida profissional:

O debacle do lavajatismo complicou os planos futuros de muitos personagens que nutriram a operação ao longo dos anos. Enquanto figuras de mais destaque como Dallagnol e Moro conseguiram dar início às suas carreiras políticas e agora, conforme veremos mais adiante, ainda se esforçam em dar sequência — visto que já não aproveitam do mesmo prestígio que tiveram no auge do midiatismo da operação — outras figuras tentam seguir na vida profissional impunemente.

Um dos exemplos famosos é o caso do procurador Diogo Castor de Mattos, cujo outdoor propagandístico da Lava Jato, financiado utilizando-se de dados de terceiro, ainda segue na justiça para que as devidas consequências sejam alcançadas. O estágio atual do caso é o julgamento da suspeição dos desembargadores que tomaram decisões favoráveis ao procurador. No entanto, um elemento extra que surgiu foi o ajuizamento de queixa-crime por Castor de Mattos contra advogada do Coletivo Advogadas e Advogados pela Democracia, grupo que ajuizou ação popular pela punição ao procurador. Mattos pede danos morais no valor de 50 mil, ao que o coletivo respondeu: 

Não fomos intimados ainda a respeito dessa querela, mas o Caad avalia que se trata de uma tentativa de intimidar o coletivo na pessoa da advogada Tânia Mandarino diante do julgamento de suspeição da 12ª Turma do TRF-4, que ocorre na 2ª Sessão do TRF-4 e que, seja qual for o resultado, reabrirá a discussão a respeito do outdoor. Nosso coletivo tem nove anos de trabalhos sociais e em prol de causas populares e de interesse público e não se intimidará

Outro caso é dos ex-delegados lavajatistas Mauricio Moscardi e Érika Marena, que, em conjunto, abriram recentemente um escritório de advocacia em Curitiba. Apesar de agora terem deixado a carreira pública, tiveram atuação desde os primórdios da Lava Jato, com Érica Marena sendo inclusive a responsável por atizar a operação. Impunes e seguindo carreira privada, Marena teve sua participação mais marcante na operação Ouvidos Moucos, em que pediu a prisão do então reitor da UFSC Luiz Carlos Cancellier. Injustamente perseguido em operação cujos métodos midiáticos serviam a finalidades das mais diversas, Cancellier cometeu suicídio pouco após ser detido, mas a justiça ainda hoje tarda a responsabilizar devidamente os envolvidos.

Moro e Eleições 2026:

Retomando a jornada política de Sergio Moro, o esforço de montar sua candidatura para o governo do Paraná em 2026 segue enfrentando alguns entraves já conhecidos. A despeito de ter sua candidatura parcialmente confirmada por ter recebido a presidência de seu partido no Paraná, o União Brasil, há ainda a questão da federação partidária. Chamada União Progressista, por unir o União Brasil ao Progressistas (PP), o mecanismo partidário tem o efeito de, na prática, fazer os dois partidos agirem como um só por quatro anos, ainda que mantenham suas próprias estruturas. Por conta disso, necessariamente o UB e o PP devem sair coligados nas eleições, o que complica a situação para o senador, visto que a resistência ao seu nome no PP é maior do que a no UB. Trata-se de mais um exemplo que dificulta a federação entre os dois partidos, ambos com grandes bancadas nacionais, mas também com muita variedade em escala estadual e municipal, servindo a interesses dos mais diversos. Um dos líderes do União Brasil, Roberto Caiado, já criticou publicamente a federação pelos desgastes criados. Uma vez formalizada, no entanto, ela só poderá ser desfeita com o término da duração estipulada, ou com punições severas no fundo eleitoral.

Enquanto Moro precisa resolver as tensões internas de sua candidatura e Ratinho segue sem anunciar oficialmente o seu candidato à sucessão, a oposição ao seu governo começa a se movimentar pela definição de um candidato. No momento, o nome comentado é o de Requião Filho, que, apesar de ter se desfiliado do PT junto a seu pai para filiar-se ao PDT, tem conseguido unir forças entre partidos progressistas por sua candidatura. O deputado estadual e filho do ex-governador acredita que o esforço de união, mesmo após embates recentes, cumpre com o objetivo de enfrentar o plano político de Moro.


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