Com o cenário conturbado das últimas semanas envolvendo as tentativas de Donald Trump em tutelar o processo judicial brasileiro por meio de tarifas, algumas falas de Sergio Moro valem ser destacadas da época da posse do atual presidente dos EUA. Seu apreço ao país norte-americano e leveza na defesa dos interesses nacionais seguem inalterados, na medida em que as pesquisas eleitorais para o governo do Paraná começam a tomar forma. Ainda, novos processos de anulação das irregularidades da Lava Jato seguem em andamento, mas a PGR segue agindo na contramão dessa tendência. E a revista Carta Capital lança matéria comentando o esforço anti-lavajatista de Kotter Editorial em novo livro sobre a operação. Tudo isso na newsletter do Museu da Lava Jato de 14/07/2025.

Moro sobre Trump e Eleições de 2026:

No dia 07 de julho, o presidente dos EUA, Donald Trump, foi às suas redes sociais para sair em defesa do ex-presidente brasileiro, Jair Bolsonaro, citando-o como vítima e criticando o processo judicial brasileiro. Em si, não há nada surpreendente no fato, visto que Trump vê em Bolsonaro um aliado por sua constante submissão às políticas internacionais estadunidenses, e tampouco é novidade que Trump discurse se intrometendo nos afazeres internos de outros países. O diferencial foi o anúncio de novas tarifas ao Brasil, caso Bolsonaro não seja inocentado por sua tentativa de golpe de Estado após sair derrotado das Eleições de 2022. Trata-se de uma agressão frontal à soberania brasileira, o que inaugurou um novo nível de submissão aos Estados Unidos entre o bolsonarismo. O senador Sergio Moro não agiu diferente da expectativa, mas é importante relembrar seu posicionamento no início do ano, quando Trump já dava indícios de como agiria.

Em 20 de janeiro de 2025, Moro foi às suas redes sociais enaltecer o discurso de posse de Trump, chamando de positiva a sua defesa dos “interesses norte-americanos”. Ocorre que desde aquele momento já era claro que tal defesa passava por atacar os demais países, não apenas por Trump ameaçar a anexação da Groenlândia e do Canal do Panamá, mas também por falas favoráveis a fortes tarifas e por referir-se ao Brasil com “eles precisam mais de nós do que nós precisamos deles”. Hoje, ainda que Moro não faça coro com o bolsonarismo ao comemorar as tarifas de Trump, seu primeiro instinto ainda é o de criticar o Presidente Lula em sua resposta de reciprocidade e defesa da soberania nacional, chamando-a de “bravata antiamericana”. A figura de Moro sempre foi marcada pro agir segundo os interesses dos EUA, os ataques à indústria nacional realizados pela Lava Jato favoreceram os interesses estrangeiros, e logo após deixar o ministério de Bolsonaro, foi trabalhar para a Alvarez & Marsal, consultoria estadunidense que inclusive recebeu dinheiro de empresas investigadas na Lava Jato.

Em momentos como esse, é importante relembrar como as figuras políticas agem quando a soberania do país é ameaçada, e a quais interesses realmente servem. É importante também, pois Moro segue em sua empreitada para concorrer ao governo do Paraná em 2026. Em pesquisa mais recente, seu nome permanece na liderança, mas o cenário começa a tomar forma com o surgimento de alguns nomes com força: Requião Filho e Beto Richa, com 15% cada. As principais forças que oporão Moro na eleição ainda não estão concretizadas, são elas o candidato à sucessão de Ratinho e o do Partido dos Trabalhadores, que a princípio não é Requião Filho. Ambos os nomes ainda não estão definidos e devem ser os principais oponentes de Moro, mas mesmo sem eles já surgem personagens para dividir a atenção do ex-juiz em sua pré-campanha.

Anulações no STF e PGR na contramão:

Enquanto isso, os processos da Operação Lava Jato seguem sendo debatidos e suas medidas revertidas. A exemplo disso, o Tribunal de Contas da União optou por suspender no dia 9 de julho a multa a funcionários da Petrobrás, por considerar os valores dos acordos de leniência suficientes. Já na contramão dos processos de reversão, novamente aparece a Procuradoria Geral da República, que dessa vez recorre da anulação de processos contra o ex-vice-presidente dos Correios. A PGR já havia recorrido das anulações nos casos do ex-ministro Antonio Palocci, que ainda está em votação no STF, mas dessa vez justifica o recurso por supostamente não haver os mesmos sinais de irregularidade no caso do ex-vice-presidente da estatal, em confronto direto à tese de Toffoli na anulação. Resta esperar a resposta ao recurso e se a PGR seguirá na mesma toada a respeito das anulações.

Kotter e o esforço anti-lavajatista:

Em matéria da revista Carta Capital, publicada na edição n° 1370 de 16 de julho de 2025, comenta-se o esforço de Kotter Editorial, editora de livros sediada em Curitiba, em relatar os crimes cometidos pela Operação Lava Jato, há poucos quilômetros de onde foram praticados. Muitas novidades ainda virão da editora, e a última foi o lançamento de O Orçamento Secreto de $. Moro, focado em detalhar o relatório do CNJ que ainda resta não respondido pelas autoridades jurídicas brasileiras. Para o advogado Wilson Ramos Filho, idealizador do Museu da Lava Jato, que integra o livro com ensaios jurídicos, trata-se também de arma vital na luta para impedir que o relatório siga enterrado em Brasília, e completa:

“É um convite para que a memória prevaleça sobre a amnésia e para que a República não esqueça que, quando a lei se curva aos homens, o Estado de Direito torna-se pouco mais que uma ficção.”

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