PADRINHO DE ZAMBELLI, MORO NÃO COMENTA CONDENAÇÃO E SEGUE EM JOGO DUPLO COM BOLSONARISMO. Confira essas e outras notícias na newsletter das últimas semanas 19/05/25
As notícias das últimas semanas com relação à Lava Jato deram sequência ao seu distanciamento da centralidade política, a exemplo da exclusão de El Hage — ex-coordenador da operação no RJ — da lista tríplice para o TRF-2, das novas ações do Brasil para impedir as arbitrariedades da Lava Jato no Peru e de novas análises a respeito das suas extravagâncias infrutíferas. No entanto, com a prisão do ex-presidente Collor em decorrência da Lava Jato — ainda que nenhuma relação o caso tenha com os métodos utilizados em Curitiba, por isso sua validade —, há dúvidas sobre o futuro de alguns alvos da operação. Ainda, o senador e ex-juiz lavajatista Sérgio Moro segue buscando construir-se como figura política relevante na oposição, mas fracassa em embate com o novo Ministro da Previdência Social, Wolney Queiroz, e segue em jogo duplo com o bolsonarismo.
Brasil rompe com Lava Jato peruana:
Conforme noticiado nas semanas anteriores, a Lava Jato peruana voltou a ganhar destaque após a condenação à prisão do ex-presidente entre 2011 e 2016, Ollanta Humala. O caso, para além da repercussão da operação, também se relacionou com a política brasileira por conta do asilo político concedido à ex-primeira-dama Nadine Heredia. Entre as demais questões com relação ao asilo, algo que chamou à atenção foi o fato de, diferente da Lava Jato no Brasil, a sua contraparte peruana segue abalando a fragilizada realidade política do país com decisões arbitrárias e perseguição a figuras políticas com base em lógicas frágeis e escasso material probatório. O processo de reversão de desmandos lavajatistas que se observa no Brasil nos últimos anos não se refletiu diretamente no judiciário peruano, cuja instabilidade ainda lembra a brasileira no auge da operação.
Assim, a notícia que chega aos jornais é a da decisão brasileira de romper sua cooperação em casos da Lava Jato no país vizinho. A partir da Secretaria Nacional de Justiça, órgão vinculado ao Ministério da Justiça, a decisão foi tomada após uma série de violações ao acordo que baseava essa cooperação. Trata-se do uso não autorizado e compartilhamento internacional de informações obtidas em delações premiadas e acordos de leniência entre Odebrecht e o Ministério Público, hoje anuladas pelo ministro Dias Toffoli por seu caráter ilegal e arquitetado. A decisão foi tomada após quase um ano no aguardo de posicionamento das autoridades peruanas, mas a princípio só vale para casos envolvendo o conglomerado Novonor. O Ministério da Justiça também determinou que sejam apuradas demais violações cometidas pela justiça peruana.
El Hage fora da lista do TRF-2:
Em novo capítulo da nomeação de desembargador para o TRF-2, o lavajatismo saiu como grande derrotado. Conforme noticiado nas semanas anteriores, a lista sêxtupla para a nomeação veio com forte tom lavajatista, a exemplo de Eduardo El Hage, ex-coordenador da Lava Jato no Rio de Janeiro, como um dos mais votados. Para além de clara estratégia de constranger o Presidente da República com nomes ligados à operação, o caso de El Hage era especialmente aviltante, considerando que o Conselho Nacional do MP havia suspendido o seu direito de assumir cargos de confiança por 5 anos em decorrência de vazamentos à imprensa de informações sigilosas, mas já sem validade por conta de decisão do ministro Luiz Fux. Ocorre que, na lista tríplice feita pelos próprios desembargadores do TRF-2 com base na lista sêxtupla para eles entregue, El Hage não mais figura entre os candidatos. Uma das funções dos TRFs ao formar a lista tríplice é justamente impedir que tais listas sirvam de ataque ao executivo federal, e, por esse motivo, é também faculdade dos TRFs devolver a lista caso notem tal característica.
Não se trata, no entanto, de uma derrota completa do lavajatismo na disputa pelo TRF-2, visto que, se na lista sêxtupla havia 4 nomes ligados de alguma forma ao lavajatismo, agora há dois na lista tríplice. São eles Stanley Valeriano, que já atuou na operação, e Neide Cardoso, que é considerada alinhada ao lavajatismo. O terceiro nome é Júlio César Costa, o mais votado em ambas as listas. Ainda que demonstre uma relevância tardia dos alinhados à operação, é notável que seu principal nome tenha sido preterido, o que marca uma nova derrota da operação. A nomeação de um dos três nomes agora cabe ao presidente Lula.
Métodos extravagantes e resultados fracos:
Para além da queda da força da operação no poder público, é também preciso salientar a desconstrução de sua retórica de operação eficaz, moderna e eficiente. Não bastassem os métodos irregulares e ilegais para alcançar as condenações mais importantes para seu projeto de poder, a Lava Jato tampouco tinha tais características citadas, e, a exemplo disso, há o suposto uso de métodos sofisticados e avançados. A implementação das delações premiadas, muitas vezes noticiadas como um avanço na justiça brasileira, já foi demonstrada como grande erro na medida em que distorcia seu princípio e utiliza delações sem material probatório que as acompanhasse.
Ocorre que há outros casos de implementações das mais extravagantes que a operação usava, mas que, na verdade, eram muito questionáveis. A exemplo, há a recente notícia a respeito do software de espionagem israelense Pegasus, da NSO Group. Com negociação para seu uso tanto pela Operação Lava Jato quanto pelo governo de Jair Bolsonaro, o software hoje figura nas notícias pela condenação de sua empresa a pagar 167 milhões de dólares em multa ao Whatsapp, por seu mecanismo ilegal de invadir 1,4 mil contas em 2019. A informação do interesse da Lava Jato em utilizar tal software e outros métodos de espionagem cibernética veio com base nos dados da Operação Spoofing, e demonstra as arbitrariedades que a operação se permitia para agir acima da lei e fazer propaganda de si própria. A condenação à NSO Group é marco de primeira grande vitória contra o desenvolvimento de tais softwares conhecidos como spyware.
Ainda, a suposta eficiência da operação também é bastante questionável, conforme demonstra matéria de Esmael Morais, na qual são apresentados os números das recuperações de recursos da Lava Jato em comparação com os da Advocacia-Geral da União e da Controladoria-Geral da União. A conclusão é de que, em seus sete anos de existência, a Lava Jato recuperou 5 vezes menos recursos do que a AGU e CGU nos últimos oito anos. Uma das explicações para a discrepância são os métodos utilizados, sem o foco propagandístico, para proveito pessoal dos agentes lavajatistas. Para além disso, no entanto, é preciso lembrar o prejuízo para a economia nacional causado pela Lava Jato, que simplesmente destruía as empresas sem qualquer atenção ao interesse público. Os valores perdidos por conta da operação não se equivaleriam às recuperações da operação, nem se elas fossem centenas de vezes maiores.
Futuro da Lava Jato após caso Collor:
Após a condenação e subsequente prisão do ex-presidente Fernando Collor de Mello, o debate a respeito da Lava Jato se reacendeu, visto que a grande tendência dos meses anteriores foi a de anulação dos casos em decorrência da incompetência da 13ª Vara Federal de Curitiba e da flagrante imparcialidade e métodos irregulares de Sérgio Moro e seu grupo. Ocorre, no entanto, que nem todas as investigações basearam-se nos mesmos métodos, nem tampouco derivaram de decisões do ex-juiz. O caso de Collor é emblemático, na medida em que sua prisão ocorreu e, em seguida, suscitou diversos debates que explicaram a diferença de sua condenação com relação àquelas que vêm sendo anuladas — de forma a desmontar o esforço do lavajatismo na política, judiciário e mídia que quiseram reavivar a operação e cantar méritos pela prisão de Collor.
Ainda assim, novas dúvidas e perspectivas surgem para alguns dos ainda investigados da operação, justamente por suas investigações decorrerem de origens diversas. Os principais deles, citados em levantamento do jornal O Globo, são o do ex-ministro Antonio Palocci — ainda em análise do recurso da PGR no STF pela anulação de seu caso —, o do ex-presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha, o do ex-senador, Romero Jucá, e do ex-governador do Rio de Janeiro, Sérgio Cabral. Assim, nota-se que há complexidade em casos múltiplos da operação ainda a serem analisados, que merece constante atenção para que não sejam utilizados na defesa dos métodos, agora combatidos, da antiga operação, como se tentou fazer com a prisão de Collor.
Moro, INSS e Bolsonarismo:
Enquanto se discutem tantas consequências da Lava Jato, o ex-juiz e atual senador Sérgio Moro segue buscando a notoriedade política que o motivava desde os princípios da operação. Conforme citado nas últimas newsletters, o senador tem interesse em candidatar-se ao governo do Paraná nas eleições de 2026, mas a realidade política não é tão fácil como senador quanto era quando juiz, com amplo apoio da imprensa para se vender como bastião de moralidade. Hoje, precisa lidar com membros do seu partido e com a dinâmica no Senado, debater não mais sentado na cadeira de juiz, onde se valia das regalias do cargo. Assim, nessa nova realidade, Moro passa por mais dificuldades, e o exemplo recente foi seu embate com o novo Ministro da Previdência Social, Wolney Queiroz. Buscando novamente se destacar entre os senadores opositores do governo Lula, Moro buscou confronto com o ministro indagando sobre as supostas denúncias sobre fraude no INSS em 2023, mas, em resposta, mais uma vez teve que ser relembrado da existência de denúncias desde 2020, durante o governo de Jair Bolsonaro, do qual Moro não apenas apoiou como foi Ministro da Justiça, até abandonar o cargo em busca de seu voo solo.
A relação de Moro com o ex-presidente Jair Bolsonaro segue sendo uma questão de dúvida para o ex-juiz com relação aos seus próximos passos e estratégias políticas. Juntos desde a eleição em 2018, quando Bolsonaro conseguiu se eleger em virtude do afastamento de Lula, seu maior concorrente, por decisão sem provas do, então juiz, Sérgio Moro — que logo em seguida aceitaria o cargo de Ministro da Justiça e Segurança Pública no governo vindouro —, o senador tem tido idas e vindas com a retórica bolsonarista. Desde que declarou seu apoio à anistia aos golpistas do 08/01 há alguns meses, Moro aparentava querer reaver sua parcela de apoiadores entre os fanáticos do ex-presidente: chegou a sugerir nova formulação da lei contra a tentativa de golpe de Estado — o que diminuiria a pena que Bolsonaro pode receber no caso em que é réu —, participou de almoços no Senado e de manifestações junto ao ex-presidente pedindo a anistia aos golpistas. No entanto, talvez por não ter recebido o acolhimento desejado ou por não ter certeza sobre esse rumo, hoje Moro já vacila em sua reaproximação com o ex-presidente. A exemplo disso, em matéria da Veja, noticia-se que Moro não quer se associar ao projeto do Presidente do Senado, Davi Alcolumbre, para diminuir a pena para os crimes do 08/01. O motivo seria justamente que sua base não vê com bons olhos esse tipo de iniciativa, ainda que, em boa parte, ela seja próxima à de Jair Bolsonaro.
Por fim, como exemplo máximo dos desencontros entre o Sérgio Moro que foi ministro de Jair Bolsonaro e o Sérgio Moro que, hoje, não tem certeza se quer ou não ser próximo do ex-presidente, há o caso da deputada Carla Zambelli. Com o grande momento de sua carreira política durante os anos de governo de Bolsonaro, Zambelli protagonizou eventos dos mais variados que foram minando sua carreira política, entre eles a invasão aos sistemas do CNJ que, agora, lhe rende uma condenação de 10 anos de prisão, inelegibilidade e perda do mandato. No entanto, antes de sua carreira começar a ruir, o então ministro Sérgio Moro, no auge de sua proximidade com o bolsonarismo, aceitou ser padrinho de casamento de Carla Zambelli. Hoje, no entanto, com o fiasco da deputada, Moro não se pronunciou e recusa quaisquer perguntas a seu respeito.
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Referências e outras notícias
- Brasil rompe com Lava Jato peruana:
https://www.brasil247.com/americalatina/brasil-rompe-cooperacao-com-peru-em-casos-da-lava-jato-apos-uso-indevido-de-provas-contra-a-odebrecht - El Hage fora da lista do TRF-2:
https://oglobo.globo.com/blogs/lauro-jardim/post/2025/05/segundo-mais-votado-no-mpf-procurador-da-lava-jato-fica-de-fora-da-lista-triplice-do-trf-2.ghtml
https://www.conjur.com.br/2025-mai-08/sem-el-hage-trf-2-forma-lista-triplice-para-quinto-constitucional/ - Métodos estravagantes e resultados fracos:
https://www.brasil247.com/midia/empresa-de-software-desejado-pela-lava-jato-e-pelo-goverNewsletter – 08:00no-bolsonaro-tera-que-indenizar-whatsapp-por-invadir-contas-ilegalmente
https://www.esmaelmorais.com.br/agu-cgu-recuperam-cinco-vezes-mais-lava-jato/ - Futuro da Lava Jato após caso Collor:
https://oglobo.globo.com/politica/noticia/2025/05/04/de-palocci-a-eduardo-cunha-lava-jato-ainda-soma-pelo-menos-17-politicos-na-mira-mesmo-apos-perder-forca.ghtml - Moro, INSS e Bolsonarismo:
https://www.cartacapital.com.br/politica/ministro-rebate-acusacao-de-moro-sobre-fraude-no-inss-nosso-governo-chamou-a-policia/
https://www.brasil247.com/brasil/wolney-queiroz-e-sergio-moro-protagonizam-bate-boca-em-audiencia-sobre-fraudes-no-inss
https://www.brasil247.com/blog/moro-deveria-estar-preso-mas-acha-que-tem-moral-para-falar-sobre-corrupcao-no-inss
https://veja.abril.com.br/coluna/radar/sergio-moro-quer-distancia-de-texto-alternativo-a-anistia-dizem-colegas/
https://oglobo.globo.com/blogs/lauro-jardim/post/2025/05/padrinho-de-zambelli-moro-silencia-sobre-condenacao-pelo-stf.ghtml