Discrição em prisões da trama golpista contrastam com o midiatismo da Lava Jato. Confira essas e outras notícias na newsletter das últimas semanas 02/12/25.
Nas últimas semanas, enquanto o STF retoma a votação sobre a renegociação de acordos de leniência firmados durante a Lava Jato, a operação também volta a ser assunto como parâmetro negativo: com as prisões de condenados pela trama golpista, nota-se a diferença entre operações discretas e o midiatismo exagerado dos anos de lavajatismo. Ainda, com a opção de Lula por Jorge Messias para a vaga no STF, o debate da Lava Jato também ressurge por estarem os processos da operação entre os que serão assumidos pelo novo ministro, o que evocou críticas de Sergio Moro. Enquanto isso, o senador e ex-juiz continua sua pré-campanha à eleição para o governo do Paraná em 2026: Ratinho Jr. não define seu candidato à sucessão, mas Moro segue em conflito com seu partido. Tudo isso na Newsletter do Museu da Lava Jato de 02/12/2025.
Lava Jato, midiatismo e trama golpista:
Com a prisão preventiva de Jair Bolsonaro e o cumprimento de pena dos demais militares condenados pela trama golpista após as eleições de 2022, um elemento que chamou a atenção foi a forma como foram executadas as ordens de prisão. Na verdade, o elemento principal foi o fato de elas em si não terem sido o foco de atenção, visto que estavam ausentes os elementos de midiatismo e espetacularização da justiça que tanto se acostumou a ver ao longo dos anos de atividade da Operação Lava Jato. Diferente do modus operandi lavajatista, as prisões em questão foram discretas, com negociação e sem o uso de algemas com exposição excessiva para a mídia. Todas as características citadas foram de caso pensado justamente para evitar o mesmo tipo de sensacionalismo visto na Lava Jato, ainda que a prisão preventiva de Bolsonaro tenha ocorrido em meio à convocação de vigílias e violação da tornozeleira eletrônica. Para o ex-secretário nacional de justiça e advogado durante a Lava Jato, Augusto de Arruda Botelho, trata-se de um processo de amadurecimento:
“Eu acredito que há uma mudança na própria forma como a PF tem trabalhado e em outras operações importantes, no cuidado com a imagem dos investigados, cuidado no momento de se efetuar a prisão. Aquela espetacularização não acontece mais. É um saldo positivo e, a meu ver, isso acontece em vários órgãos, passa pelo MPF, não vemos hoje representantes do MPF dando entrevistas coletivas, fazendo manifestações em redes sociais. Fazem como todo ator do sistema de justiça deve fazer, que é atuar nos autos”
As mudanças relatadas vão ao encontro da análise do criminalista Fábio Tofic Simantob, que explica como a Operação Lava Jato passou, em dado momento, a focar na busca do impacto midiático em vez do processo jurídico regular. Segundo ele, a busca por provas e a sequência legal das investigações perderam espaço para estratégias de manutenção da imagem da força-tarefa e da relação com a mídia, tornando a Lava Jato um “fim em si mesma”. As decisões de Moro eram pautadas de acordo com a reação da opinião pública, faziam vazamentos seletivos à imprensa para pressionar delações, as quais não se pautavam em material probatório, atropelaram o processo e a ética jurídica, algo que, quando comprovado, levou o STF a concluir pela parcialidade e conluio do juízo, o que culmina nas seguidas anulações vistas hoje. Tais são apenas algumas das características do midiatismo lavajatista que comprometeram o aspecto jurídico da operação, e que essencialmente a diferenciam do processo da trama golpista que levou militares e o ex-presidente Jair Bolsonaro à prisão.
STF retoma votação sobre acordos de leniência da Lava Jato:
Após pedido de vista do ministro Flávio Dino em agosto deste ano, o julgamento sobre os acordos de leniência firmados na Lava Jato retomou no dia 28/11. O voto de Dino foi favorável à repactuação dos acordos, apenas divergindo do relator, André Mendonça, ao ressaltar o papel dos órgãos públicos em evitar duplicidade de punições de instâncias diferentes, com acordo único e abrangente celebrado pela CGU, enquanto Mendonça admite acordos separados.
Em resumo, o que está em debate é se os acordos de leniência — espécie de delação premiada firmada com empresas — da época da Lava Jato ocorreram com prejuízo excessivo às empresas, decorrente de coação da operação. O questionamento a tais acordos veio dos partidos PSOL, PCdoB e Solidariedade, que também pedem a suspensão temporária do pagamento. Mendonça, no entanto, não crê ter havido pressão indevida, portanto apenas estabelece regras mais claras que alteram o cronograma e método de pagamento, mas sem descontos no valor principal das multas. Seu voto foi acompanhado por Barroso e Kassio Nunes Marques. Com a divergência parcial de Dino, o julgamento segue para os demais ministros, com previsão de término no dia 05/12.
Indicado por Lula, Messias assumirá processos da Lava Jato e Moro reage:
Após a aposentadoria do ministro Roberto Barroso, iniciou-se o debate sobre a indicação do presidente Lula à vaga, com a decisão no dia 20/11 por Jorge Messias, Advogado Geral da União. Sua efetivação depende de 41 votos no Senado, o que ainda deve passar por muito debate, não apenas por ser o comum em indicações de ministros do Supremo, mas também porque Messias herdará processos sensíveis de Barroso, como ADPF das Favelas, aborto legal e processos remanescentes da Lava Jato — ainda que Fux tenha assumido a vaga na segunda turma, que também julga o tema.
Entre os senadores que já demonstraram insatisfação, destacam-se o presidente do Senado, Davi Alcolumbre, e o ex-juiz Sergio Moro, especialmente interessado no tema da Lava Jato, cuja atuação na operação já foi declarada parcial pelo STF. Ambos do mesmo partido, Moro apoiou Alcolumbre após embate com o Governo Federal. No entanto, o motivo da oposição de cada um deles é distinto: Alcolumbre tinha seu próprio candidato e por isso ficou insatisfeito com a indicação de Messias, já Moro mantém sua postura de antagonismo a Lula como principal bandeira política. Resta aguardar as negociações do governo para o transcorrer da sabatina, mas a postura do ex-juiz já é previsível e deve se esforçar para atrapalhar a chegada de Messias ao STF, ainda mais considerando a contundente postura antilavajatista do Advogado Geral da União.
Governo paranaense segue sem candidato definido e Moro lida com conflitos internos:
Para além de sua oposição invariável ao governo Lula, o outro elemento que tem marcado a pré-campanha de Sergio Moro ao governo do Paraná tem sido a demora de Ratinho Jr. em definir seu candidato à sucessão. A despeito da popularidade atual do governador, a falta de uma definição clara para as próximas eleições tem feito Moro se destacar nas pesquisas por aparente falta de concorrente à direita. Ainda assim, nas pesquisas mais recentes, o nome do ex-prefeito Rafael Greca tem ganhado destaque entre os demais pré-candidatos do PSD, mas há mais elementos que devem definir a escolha final do atual governador.
No entanto, o conflito de Moro com seu partido e federação partidária segue sem previsão para acabar. Anteriormente, com a candidatura já garantida, visto que recebeu o cargo de presidente de seu partido (União Brasil) no Paraná, a federação com o PP obriga que ambas as legendas saiam coligadas nas eleições, o que coloca nomes do PP como eventuais opositores que possam sair candidatos em seu lugar. Independente do potencial eleitoral, a disputa também gira em torno da baixa aceitação do nome de Moro entre vários políticos dos dois partidos, sem falar na proximidade com o PSD de Ratinho Jr., o que gerou uma debandada de prefeitos das legendas. A federação entre os dois partidos ainda corre risco de não se firmar e morrer no nascedouro, visto que os conflitos de interesses entre dois dos principais partidos do centrão vão muito além de Moro e do Paraná, mas há ainda outras questões, como as crescentes investigações contra figuras proeminentes dos partidos, o que mina o principal discurso do ex-juiz: o moralismo anticorrupção. É possível que Moro opte por uma nova legenda, caso a permanência no partido se confirme como desfavorável, algo que pode decidir até abril de 2026.
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Referências e outras notícias
- Lava Jato, midiatismo e trama golpista:
https://jornalggn.com.br/operacao-lava-jato/para-fabio-tofic-lava-jato-priorizou-impacto-midiatico-e-abandonou-rigor-juridico/
https://oglobo.globo.com/politica/noticia/2025/11/26/rapida-e-discreta-prisao-de-condenados-na-trama-golpista-contrasta-com-conduta-da-lava-jato.ghtml - STF retoma votação sobre acordos de leniência da Lava Jato:
https://www.cartacapital.com.br/justica/o-que-esta-em-jogo-no-julgamento-do-stf-sobre-acordos-de-leniencia-da-lava-jato/
https://www.cnnbrasil.com.br/politica/flavio-dino-vota-a-favor-de-acordos-de-leniencia-da-lava-jato-e-reforca-cgu/ - Indicado por Lula, Messias assumirá processos da Lava Jato e Moro reage:
https://www.jota.info/stf/do-supremo/aborto-lava-jato-gasoduto-sistema-prisional-e-carf-acoes-que-messias-vai-herdar
https://www.metropoles.com/brasil/moro-reage-apos-alcolumbre-criticar-demora-de-lula-sobre-messias - Governo paranaense segue sem candidato definido e Moro lida com conflitos internos:
https://www.esmaelmorais.com.br/moro-joga-parado-ratinho-muro/
https://www.esmaelmorais.com.br/lavajatistas-moro-uniao-master/
https://www.esmaelmorais.com.br/moro-sem-legenda-parana/
