EM FUX ELES CONFIARAM, MAS ISSO NÃO IMPEDIU A CONDENAÇÃO DE BOLSONARO: DO LAVAJATISMO AO GOLPISMO. Confira essas e outras notícias na newsletter das últimas semanas 12/09/25
O noticiário das últimas semanas esteve focado no histórico julgamento no STF, que concluiu pela condenação por 4 votos a 1 ao ex-presidente Jair Bolsonaro por tentativa de golpe de Estado. Esse voto favorável ao ex-presidente, no entanto, é a notícia especialmente relevante ao tema da Lava Jato. Qual é a relação do Ministro Luiz Fux com o lavajatismo? O seu histórico punitivista guarda coerência com seu voto no julgamento de Bolsonaro? E os lavajatistas, como reagiram a isso tudo? Ainda, Moro segue em sua pré-campanha para 2026, e o STF segue debatendo o legado lavajatista. Tudo isso na Newsletter do Museu da Lava Jato de 12/09/2025.
As contradições históricas do Ministro Luiz Fux:
O Ministro Luiz Fux ficou marcado no julgamento à tentativa de golpe liderada pelo ex-presidente Jair Bolsonaro como o único a não votar favoravelmente à sua condenação. Para além do discurso exaustivo e amplamente criticado por ignorar o conjunto probatório, pela contradição com suas próprias posições para com outros julgados no mesmo processo e pela conclusão estapafúrdia de anulação e remessa à primeira instância, um destaque curioso foi a abrupta mudança de comportamento do ministro com relação ao seu passado. Se no processo em questão, Fux emulou uma postura garantista, seu passado julgando a Lava Jato sempre foi punitivista.
É nesse sentido que escreve Sabrina Kurscheidt em seu artigo publicado no site do Museu da Lava Jato, em que avalia a postura do ministro não apenas como conveniente — visto que agiu para livrar Bolsonaro, seu aliado de ocasião —, mas também totalmente contraditória com seu passado de moralista feroz, que atropelava garantias para ver triunfar os objetivos da Operação Lava Jato. A atitude de Fux é perigosa, pois demonstra o claro comportamento parcial de um ministro do STF, além de buscar fortalecer os argumentos bolsonaristas, que acusam perseguição do Supremo — injustificados, considerando a amplitude das provas coletadas e o respeito à ampla defesa ao longo de todo o processo.
A contradição conveniente do ministro já se demonstrava ao longo do julgamento aos golpistas do 08/01, em que sempre tentou demonstrar-se um aliado dos anseios bolsonaristas. O caso de Fux se trata apenas de mais um exemplo da naturalidade com que o lavajatismo se fundiu com o bolsonarismo no cenário político nacional, demonstração já desavergonhada da parcialidade com que guiavam a Operação.
Lavajatistas comemoram voto de Fux:
Já, do outro lado da história, outros lavajatistas que também abraçaram o bolsonarismo comemoravam o voto do Ministro Fux. É o caso de Deltan Dallagnol, cuja euforia acabou por exprimir um ato falho, pois depois de anos negando a veracidade das conversas divulgadas na Vaza Jato, decidiu relembrar em suas redes sociais o famoso bordão “In Fux we Trust”. A confiança em Fux existia durante a Lava Jato e seguiu existindo em sua nova fase bolsonarista, mas, em ambos os casos, não foi o suficiente, pois Bolsonaro foi condenado e os desmandos de sua Operação seguem sendo revertidos dia após dia.
É preciso, no entanto, destacar a desfaçatez com que, hoje em dia, os lavajatistas contradizem seu antigo discurso de imparcialidade e combate à corrupção. Hoje são abertamente de extrema-direita, já não mais se envergonham de seus diálogos irregulares para combinar condenações e delações, e defendem golpistas mesmo com a amplitude das provas coletadas.
Sergio Moro foi outro que saiu em defesa de Bolsonaro. No Senado e em suas redes sociais, Moro repete a tese furada de Fux, de que o julgamento deveria ir para primeira instância. Nada mais do que uma tentativa de deslegitimar o processo e acenar para os bolsonaristas. Moro age com mais discrição do que Deltan: a lógica é a mesma, mas a estratégia é diferente. Deltan segue tentando reconstruir sua carreira política ligando-se 100% ao bolsonarismo, enquanto Moro, que almeja a candidatura ao governo do Paraná em 2026, tenta um discurso que convença um número maior de eleitores, mas o caminho não é simples.
Moro segue em campanha para 2026:
Enquanto Moro tenta posar para o eleitorado como um bolsonarista não tão bolsonarista quanto os outros, o jogo político interno segue em andamento. A última atualização foi que Moro assumiu a presidência estadual do União Brasil, após a renúncia de Felipe Francischini, o que indica que, dentro do partido, deve ter apoio para concretizar sua candidatura. A dúvida sempre paira, pois, para alguns correligionários, ainda é visto como uma figura muito isolada e pouco confiável — é a opinião, por exemplo, de Ney Leprevost, que teve sua candidatura à prefeitura prejudicada pela chapa com a esposa de Moro em 2024. Sem falar na formação da federação partidária com o Progressistas (união que, curiosamente, une os repaginados PFL e PDS, partidos sucessores da ARENA), o que obriga os dois partidos a sempre saírem juntos na próxima eleição, mas Moro também tem inimigos nesse partido, como Ricardo Barros.
No entanto, o elemento Ratinho Jr. segue sendo uma grande ameaça para sua candidatura. Apesar de o atual governador ainda não ter se decidido quanto à sua sucessão, muito se fala de Alexandre Curi (PSD), mas também acredita-se em alguma composição com outro nome que apareceu: o vice-prefeito Paulo Martins (Novo). Independentemente da decisão final, a movimentação tem indicado que Ratinho não se aliaria com Moro, e há inclusive incentivo para que mais prefeitos migrem da federação de Moro para o PSD de Ratinho.
Ainda que as principais pesquisas indiquem vantagem de Moro na disputa, o cenário ainda é muito incerto para tais levantamentos. Requião Filho (PDT) começa a aparecer com mais força, ainda que sequer tenha formado uma aliança com demais partidos do centro e da esquerda, que, por sua vez, assim como o governo, ainda não cravaram um candidato. O nome de Curi também começa a se destacar quando aplicado em cenários diferentes, como em pesquisa realizada na região central do estado, na qual aparece até com maior expectativa de votos que Moro, mas ainda mais importante é quando se avalia o potencial de transferência de votos de Ratinho, que também aparece como muito alto.
Tenha acesso exclusivo nos nossos canais
Referências e outras notícias
- As contradições históricas do Ministro Luiz Fux:
https://museudalavajato.com.br/editorial-fux-e-o-garantismo-seletivo/?fbclid=PAdGRzdgMxQy1leHRuA2FlbQIxMQABp8K_IFRD5LTcWgarLYiNeRi7D5C-zycvUZfka74ZSkx4nEh_5tQ4-QkXK7pD_aem_xEEz_QUZPVhWt35STqb4zA
https://www.cartacapital.com.br/justica/in-fux-we-trust-como-um-ministro-indicado-pelo-pt-se-converteu-em-esperanca-da-ultradireita-no-stf/
https://www.cnnbrasil.com.br/blogs/luisa-martins/politica/analise-fux-deixa-de-lado-punitivismo-da-lava-jato-e-vira-garantista/
https://www.nexojornal.com.br/podcast/2025/07/23/ministro-stf-luiz-fux-historico-decisoes-supremo - Lavajatistas comemoram voto de Fux:
https://www.brasildefato.com.br/colunista/manoel-ramires/2025/09/11/em-ato-falho-moro-e-dallagnol-admitem-dialogos-cabulosos/
https://cbn.globo.com/politica/noticia/2025/09/10/deltan-dallgnol-comemora-voto-de-ministro-no-julgamento-da-trama-golpista-in-fux-we-trust.ghtml
https://www12.senado.leg.br/noticias/materias/2025/09/10/moro-critica-atuacao-do-stf-em-julgamento-de-bolsonaro - Moro segue em campanha para 2026:
https://www.esmaelmorais.com.br/curi-empata-martins-greca-fora-curitiba/
https://www.esmaelmorais.com.br/moro-herda-uniao-progressista-ratinho-barros/
https://www.esmaelmorais.com.br/ratinho-ofensiva-sergio-moro/
https://www.esmaelmorais.com.br/pesquisa-curi-frente-moro-parana/ - Confirmação de anulação a processos de Paulo Bernardo:
https://www.cartacapital.com.br/politica/stf-confirma-anulacao-de-atos-da-lava-jato-contra-paulo-bernardo/ - STF e perda de bens:
https://www.cartacapital.com.br/politica/a-indefinicao-no-stf-sobre-a-perda-de-bens-de-delatores-da-lava-jato/