Em março de 2019, quem partia e chegava em Curitiba, através do Aeroporto Afonso Pena, deparava-se com um chamativo outdoor. Não se tratava de anúncio  do novo produto de uma grande marca ou de uma campanha publicitária. 

O outdoor, de tamanho proporcional ao ego daqueles que o estampavam, causava espanto aos que por ali passavam e se deparavam com a fotografia dos nove Procuradores do Ministério Público Federal que atuaram na Operação Lava Jato.

Com a semiótica de “última Ceia”, tendo Deltan Dallagnol e os demais Procuradores enfileirados, lado a lado, o outdoor de autopromoção exibia a frase “Bem-vindo à República de Curitiba. Terra da Operação Lava Jato, a investigação que mudou o país. Aqui a lei se cumpre. 17 de março — 5 anos de Operação Lava Jato — O Brasil Agradece”.

A série de reportagens Vaza Jato, do site “The Intercept”, trouxe à tona que o Procurador Diogo Castor de Mattos teria confessado que financiou a instalação do outdoor, que custou R$ 4.100,00.

Em 2021, o Conselho Nacional do Ministério Público concluiu que o outdoor maculou a dignidade da instituição e da justiça, decidindo aplicar a pena de demissão do Procurador. Por 6 votos a 5, o órgão entendeu que Castor de Mattos cometeu ato de improbidade administrativa.

No Tribunal Regional Federal da 4ª Região, os desembargadores Luiz Antônimo Bonat, João Pedro Gebran e Gisele Lemke negaram o pedido liminar do MPF para o afastamento do Procurador Diogo Castor de Mattos, mantendo-o no cargo. 

Curiosamente, os mesmos desembargadores, que mantêm ligações com Sérgio Moro, em ações anteriores ligadas à Lava Jato, haviam se declarado suspeitos. No entanto, ao julgar o caso envolvendo o outdoor, mudaram de posição, afirmando que não havia impedimento

Atualmente, o TRF4 julga o incidente de suspeição dos três desembargadores. O julgamento, que teve início no dia 09 de outubro, em Florianópolis, atualmente encontra-se suspenso após um pedido de vista. 

Seu desfecho marcará se o Tribunal Regional Federal da 4ª Região segue, ou não, refém do lavajatismo. Caso Gebran, Bonat e Lemke sejam reconhecidos suspeitos, as decisões por eles tomadas serão anuladas e o Procurador Diogo Castor de Mattos terá a punição que o próprio CNMP entendeu ser devida.

Porém, mais do que o merecido afastamento de um Procurador ímprobo da carreira do MPF, os efeitos do reconhecimento da suspeição dos desembargadores desdobram-se em mais um marco na história da construção da verdade sobre a Operação Lava Jato e todos que dela fizeram parte. A história deve ser – e será – implacável.