A atual ofensiva de Donald Trump para interferir no sistema judiciário brasileiro com o objetivo de proteger Jair Bolsonaro não é um ato isolado de solidariedade entre extremistas de direita. Trata-se da continuidade de um longo processo de dominação estratégica, onde a soberania brasileira, especialmente em relação ao seu petróleo, é o verdadeiro alvo. O nome disso é imperialismo, e sua expressão mais clara no Brasil sempre foi o ataque à Petrobras.

A luta pela soberania energética começou com sangue e mobilização popular. A campanha “O petróleo é nosso”, nos anos 1940 e 1950, foi um marco de resistência contra os interesses estrangeiros que já naquela época tentavam impedir que o Brasil tivesse controle sobre suas riquezas naturais. A criação da Petrobras em 1953, durante o governo Vargas, foi a vitória temporária de um projeto nacionalista, mas que jamais deixou de ser sabotado.

Poucos anos depois, em 1964, os Estados Unidos participaram ativamente do golpe militar que derrubou João Goulart, presidente que defendia reformas de base e o fortalecimento das estatais. Documentos desclassificados comprovam o apoio logístico, diplomático e financeiro ao golpe. A ditadura resultante reprimiu sindicatos, destruiu a mobilização social e reorientou a economia brasileira para os interesses do capital internacional. A Petrobras foi mantida, mas com suas decisões políticas cada vez mais tuteladas e amarradas a interesses externos.

Nos anos 2000, com os governos Lula e Dilma, a Petrobras voltou a ocupar papel central no projeto de desenvolvimento soberano. A descoberta do pré-sal reacendeu o entusiasmo de que o Brasil poderia romper com sua histórica dependência externa. Mas o sonho durou pouco. A partir do escândalo do mensalão, consolidou-se a ideia de que as estatais são, por definição, corruptas. Essa narrativa foi central para o avanço de uma política de desmonte da Petrobras, intensificada pela Operação Lava Jato.

Sob a justificativa de combater a corrupção, a Lava Jato promoveu a destruição de empresas nacionais, entregou informações estratégicas aos EUA e paralisou setores inteiros da engenharia brasileira. O que era vendido como uma cruzada moral era, na prática, uma operação de sabotagem econômica. Executivos da Lava Jato, como Sergio Moro e Deltan Dallagnol, mantiveram relações próximas com instituições dos Estados Unidos, fizeram cursos, palestras e articulações com órgãos como o FBI e o Departamento de Justiça americano. Não por acaso, o Departamento de Justiça dos EUA recebeu bilhões em multas pagas por empresas brasileiras durante os acordos firmados na Lava Jato.

No auge da operação, o governo Temer iniciou um processo agressivo de privatizações na Petrobras. Refinarias, campos de petróleo e subsidiárias estratégicas foram vendidas a preço de banana, muitas vezes para empresas estrangeiras. Esse processo continuou com Bolsonaro, que aprofundou a submissão do Brasil aos interesses geopolíticos dos Estados Unidos. A política de preços da Petrobras, atrelada ao dólar, beneficiou acionistas estrangeiros enquanto punia o povo brasileiro com combustíveis caros.

Agora, com Bolsonaro na mira da Justiça, Trump volta à cena para tentar protegê-lo. Mas o que está em jogo não é o destino de um ex-presidente. Bolsonaro é apenas um espantalho. Um peão descartável. O que os EUA querem preservar é a estrutura de dominação que ele representa: o Brasil como colônia energética, como fornecedor barato de recursos e como economia politicamente enfraquecida.

Por isso, tudo sempre foi sobre indepedência. E isto passa pela Pétrobras.